Quem não se move, não sente as correntes que o prendem. (Rosa Luxemburgo).

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mulher

Seis da manhã
Tanãnãnãnãnã tanãnãnãnã...
Quanto tempo mesmo se passou
desde que seus olhos se fecharam?
Desde que seu corpo
Dolorido
Cansado
Suado
Encontrou algum repouso?

Qual repouso
Pode esperar uma mulher
Cansada de acordar cedo
Arrumar os filhos
Ajeitar a casa
E sair correndo sempre?
E encontrar na rua
A audácia de quem nunca teve medo
De perder “as pregas”
A humilhação diária
Apenas porque tem peitos
Bunda e
Cabelos...

E volta
com a mesma força das seis da manhã
Olha para os filhos
Pensa na vida que os espera
e tenta protegê-los
Da vida e do que a vida faz de nós mesmos
Pensa no seu amor
Tão querido
Tão longe,
E
Sente saudades...


E chora,
Algumas são como rios que deságuam no mar
Outras são lençóis freáticos:
Ninguém nunca sabe quanta lágrima
Vai no seu coração
Mas todas choram
Todas sentem
Todas amam
Todas lutam
Todas temem...

Essa mulher espera o repouso
No livro, na música, na arte
Repouso para se reencontrar outra vez
Para descobrir alguém dentro dela ou nela
O amor...
O amor por si mesma
Quão bela pode ainda ser essa mulher?
Tanto que nem ela lembrava mais
Seus olhos deixaram de ser espelhos...


Essa mulher de rosto marcado,
De mão calejada e peito ferido
De história na memória,
Também quer viver
Mas agora ...
Agora já é tarde
E logo será seis da manhã
novamente
Ela precisa dormir ...