Quem não se move, não sente as correntes que o prendem. (Rosa Luxemburgo).

domingo, 15 de junho de 2014

Os vândalos nos estádios da Copa - Por José Eduardo Galvão




Como se não bastasse o ocorrido na abertura da Copa, no jogo entre Colômbia e Grécia parte do público também xingou Dilma. Se a moda pegar, os xingamentos direcionados à presidenta podem ser um novo indicador de pesquisa eleitoral, só que mais dinâmico, com cara, voz e preço. O que chama a atenção desta espécie de público que entoa palavrões para agir politicamente é a ignorância na forma e no conteúdo deste ato.
 
Muitos na imprensa destacaram a composição social de boa parte daqueles que pagaram mais de R$ 800,00 para assistir à abertura do mundial, como Pedro Estevam Serrano para o qual “em geral, passaram a vida sem lavar a própria latrina ou sem ter de ir comprar pão de manhã (...)” (http://www.cartacapital.com.br/politica/xingamentos-contra-dilma-sao-o-que-parecem-ignorancia-2290.html, acessado em 14/06/2014). Outros críticos também manifestaram repúdio a esta platéia composta, majoritariamente, por uma certa elite paulistana, como Juca Kfouri e Sakamoto (http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/06/14/no-itaquerao-a-elite-branca-xingou-mas-quem-a-treinou-tao-bem/, acessado em 14/06/2014), Kennedy Alencar (rádio CBN). É claro, seria preciso ter mais elementos para relacionar o público de Brasil e Croácia e do jogo Colômbia e Grécia, mas parece ser possível estabelecer um vínculo entre os xingamentos e os currais eleitorais do PSDB. A suspeita aumenta por se tratar de ano eleitoral.
 
A menção à composição social da platéia que comprou os caros ingressos da Copa é para enfatizar que não existe relação direta entre qualidade da crítica política e nível educacional daqueles com maior poder aquisitivo. O máximo que este coletivo de milhares conseguiu produzir foi uma palavra de ordem que terminava com a forma popular de se referir ao ânus. Nada mais! Todos juntos, com um biquinho na boca em forma de anel terminando o coro. Além desta cena caricatural cuja forma demonstra uma pobreza de capacidade crítica, é possível absorver o conteúdo bárbaro desta manifestação, ou melhor, desta excreção.
 
A ofensa direcionada a Dilma, seja em São Paulo, seja em Minas, expressou a raiva de parte da classe média alta e da elite brasileira (a tradicional e a emergente) para com o contexto político, social e econômico do Brasil. O pavor que sentem pelo suposto descontrole do país, desde junho de 2013, por conta das manifestações e greves que eclodiram por mais direitos sociais e qualidade de vida, torna-os histéricos. O incômodo causado por estas agitações nestes estratos sociais, reflete-se nos principais meios de comunicação que dominam a imprensa no Brasil. Não por menos, os manifestantes e trabalhadores em greve são taxados como vândalos, irresponsáveis, baderneiros. São estes adjetivos que esta elite utiliza para fofocar com seus pares sobre os bárbaros que lutam por um país melhor e por mais distribuição de renda. Os mesmos que ofenderam Dilma são os que vibram quando a tropa de choque de Alckimin reprime os movimentos sociais. 
 
Não se trata de defender o governo Dilma, e sim praticar a forma mais inteligente e racional de se fazer política. Aqueles que vão às ruas, que fazem greves contra governos do PT e do PSDB, apresentam um programa de mudança, claras reivindicações. De forma oposta, não se sabe o que quer esta singular elite que freqüenta os estádios da Copa. Por enquanto, só se sabe que este setor social cheio de pompas quer algo relacionado ao ânus. Por sinal, dos poucos seres vivos que se confortam com excrementos, inclui-se os que não têm polegar opositor, como os porcos.
 
O conteúdo vazio dos xingos à presidenta, apenas carregados de veneno e ódio, podem ser qualificados como vandalismo. Por que não? Ora, quando aqueles que quebram vidraças de bancos, que provocam dano ao patrimônio, são taxados como vândalos, não há exageros nesta classificação para os conservadores. Para ser justo com o uso do termo na atual conjuntura, aqueles que causam dano à moral e à dignidade individual, também merecem a designação de bárbaros. O problema é que tal vandalismo da elite é legitimado, por exemplo, pela Globo – que faz questão de aumentar o áudio durante as transmissões dos jogos neste tipo de manifestação dos torcedores. Vandalismo de um pequeno setor de brasileiros que pouco importa se a maioria fora dos estádios freqüenta filas do SUS, do INSS, ao invés das filas dos estádios.
 
Por fim, em uma conversa de turistas que vieram para o mundial foi como idiotas (no sentido grego) que se referiram à torcida brasileira nos estádios: “?Que cantan los brasileños?”, perguntou um espanhol, “Están diciendo para la presidenta tomar por culo”, respondeu-lhe um argentino. Então, os dois juntos disseram em coro: “Joder, que bárbaros són ellos”.          
    
 
 José Eduardo Galvão, petroleiro, formado em Ciências Sociais pela Unicamp