Meu desabafo. Essa mulher tem um pouco de mim e um pouco das mulheres
que fui encontrando pela vida. O mundo de cada uma de nós, mulheres
trabalhadoras e guerreiras. É tudo um infinito particular e coletivo ao mesmo
tempo. Tenho sempre a impressão de que
se cada uma de nós pudesse, haveria tanto a dizer...
Uma abraço de solidariedade a todas nós. Que nossas convicções nos tornem mais fortes para continuar as batalhas! Para nós uma poesia de minha autoria!
Mulher
Seis da manhã
Tanãnãnãnãnã tanãnãnãnã...
Quanto tempo mesmo se passou
desde que seus olhos se fecharam?
desde que seu corpo
Dolorido,
Cansado,
Suado
encontrou algum repouso?
Qual repouso pode esperar uma mulher
Cansada de acordar cedo,
Arrumar os filhos,
Ajeitar a casa
e sair correndo sempre?
E encontrar na rua
A audácia daqueles que nunca precisam ter medo.
Medo feminino
de perder “as pregas”
E viver
a humilhação diária
Apenas porque tem peitos
Bunda e
Cabelos...
E volta para casa ao fim da primeira jornada
com a mesma força das seis da manhã
Olha para os filhos
Pensa na vida que os espera
e tenta protegê-los...
Da vida
e do que a vida faz de nós mesmos.
Pensa no seu amor
Tão querido
Tão longe,
E
Sente saudades...
E chora, por horas...
Alguns choros são como rios que deságuam no mar
Outros são lençóis freáticos:
Ninguém nunca sabe quanta lágrima há.
Mas todas choram!
Anas
Marias
Adrianas
Gabrielas
Silvanas...
Todas sentem
Todas amam
Todas lutam
Todas temem...
Mas vão em frente!
Essa mulher espera o repouso
No livro, na música, na arte...
Repouso para se reencontrar outra vez
Para descobrir alguém dentro dela ou nela
Para reencontrar
O amor...
O amor por si mesma.
Quão bela pode ser essa Mulher?
Tanto que nem ela mais lembra,
Seus olhos deixaram de ser espelhos...
Então,
Essa mulher de rosto marcado,
De mão calejada e peito ferido
De história na memória,
Também quer viver!
Mas agora ...
Agora já é tarde
E logo será quase seis...
Outra vez...
E Ela precisa dormir.
Escrito em 16-02-2009
Adaptado em 08-03-2014.
